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Conectividade no campo ainda é um desafio no agronegócio brasileiro

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Enquanto boa parte da economia brasileira teve os piores seis meses dos últimos tempos em razão da pandemia, o agronegócio se manteve forte e já cresceu 5,35% no primeiro trimestre de 2021, com uma estimativa de ultrapassar os 30% do Produto Interno Bruto (PIB) até o fim do ano. Situação que pode melhorar ainda mais a médio e longo prazo por meio dos projetos de inovação tecnológica no campo, como ampliação das redes 4G e 5G.

No entanto, a conectividade é vista por especialistas como um grande desafio para alinhar melhores resultados na produtividade, redução nos custos e otimização do tempo, explorando as possibilidades de novos maquinários, aplicativos, soluções de startups, ou seja, a internet das coisas precisa chegar em locais mais longínquos. Sem um sinal de qualidade, não há inovação que possa ser colocada em prática.

Pandemia fez crescer necessidade de internet no campo

De acordo com o doutor em Engenharia de Produção e professor do Departamento de Engenharia da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (FZEA-USP), Luís Fernando Soares Zuin, o cenário de uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) teve uma ampliação no campo por conta da pandemia, independente do porte ou setor em que o produtor rural atua. “Este cenário já vinha crescendo antes da pandemia da Covid-19 e teve uma expansão significativa nos territórios rurais no último ano e meio”.  

Mesmo assim, o especialista diz que existe um déficit na ampliação da rede de internet a preços acessíveis e com boa qualidade destinada aos produtores rurais, principalmente os que atuam na chamada Agricultura Familiar. 

“Precisamos também que aconteçam ofertas de mais programas de ensino-aprendizagem para os técnicos, agricultores, familiares e funcionários no uso dos caminhos interacionais, como os aplicativos de comunicação, gestão da produção agropecuária, entre outros. Entram também as TICs e seus dispositivos eletrônicos (aparelhos celulares, tablets, computadores), ou seja, é preciso investir no letramento digital.  

Inovação no campo necessita de mais investimentos em ensino digital 

Segundo Zuin, o uso das TICs irá se intensificar significativamente nos próximos anos na produção agropecuária. Nesse sentido, os investimentos em Assistência Técnica e Extensão Rural são imprescindíveis. 

“Mas é importante frisar que a ATER presencial, do técnico junto do produtor na propriedade é fundamental para o desenvolvimento rural e não irá desaparecer. Todas as cadeias produtivas agroalimentares deverão ser afetadas cada vez mais pela introdução das TICs e popularização da internet no campo, por que isso já está acontecendo”, afirmou Zuin. 

Conectividade no campo é prioridade com expansão das redes 4G e 5G 

O diretor de novos negócios na cooperativa MinasSul e presidente do Coffee Coin, Luiz Henrique Albinati, também confirma que existe uma carência de tecnologia no agronegócio justamente pelo fato da internet ainda não ser uma realidade em vários lugares. 

Situação que deverá mudar nos próximos anos em razão do leilão do 5G, previsto para acontecer ainda em 2021. Serão vendidos os direitos de uso de quatro faixas de radiofrequência de 700 megahertz, 2,3 gigahertz, 3,5 e de 26 gigahertz.  

antena 5g no campo
A chegada do 5G ao campo deverá incrementar a produção, aumentando consideravelmente os valores do setor que já representa quase 30% do PIB brasileiro. Imagem: Audrius Venclova / Shutterstock

Uma das contrapartidas que deverá ser atendida pelas empresas vencedoras do certame será exatamente o fornecimento de internet 4G para comunidades mais distantes, como as que integram a Agricultura Familiar, destinando a tecnologia 5G para as maiores propriedades.  

Com a inovação, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) já tem projeções otimistas quanto aos ganhos tanto em produtividade do agronegócio quanto no PIB brasileiro. 

O coordenador geral de inovação do MAPA, Daniel Trento Nascimento, está à frente dessa transição digital e vem acompanhando cerca de 1.500 startups de aplicação para o agro, as Agtechs, com projetos para auxiliar na melhoria da conectividade. Hoje, mais de 70% das áreas rurais não contam com acesso à internet no Brasil. 

“Temos que melhorar isso e já estamos trabalhando em conjunto com o Ministério das Comunicações, inclusive há estudos conduzidos pela Esalq USP que já nos apontam quantas torres precisaríamos para melhorar o acesso. Entendemos que a conectividade é um meio e não um fim. O grande foco do Ministério da Agricultura é levar inovação, tecnologia e soluções que contribuem com o agronegócio brasileiro”. 

Dentro dos cenários conduzidos pelos pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), caso sejam aproveitadas as 4.400 torres e antenas já existentes no país, a cobertura atual de 23% subiria para 48% nas áreas rurais até 2026, o que representa um crescimento de 4,5% no Valor Bruto de Produção (VBP). 

Daniel Trento Nascimento
Coordenador geral de inovação do MAPA diz que as projeções são otimistas quanto a chegada do 4G e 5G ao campo, tendo uma expectativa de atender mais de 90% da área rural brasileira em uma previsão a longo prazo. Imagem: Captação de tela Zoom

“Em um cenário a longo prazo, com a instalação de mais de 15.000 torres e antenas, teríamos uma cobertura final de 90% de internet no campo, um cenário ideal para o desenvolvimento das tecnologias no campo. Isso daria uma adição de 10% no valor bruto do agronegócio, passando de R$100 bilhões, ou seja, é muito importante para o Brasil”, explicou o coordenador geral de inovação do MAPA. 

No entanto, todas as melhorias necessitarão de investimentos não só do poder público, como também em parcerias com a iniciativa privada. Trata-se de um horizonte de cinco anos que precisará de aportes financeiros. Caso se confirme, o agronegócio brasileiro terá mais avanços em um cenário que já é amplamente favorável à economia. 

“Digo que o leilão de 5G é uma coincidência de fatores em cenários bem favoráveis, pois já estamos vivendo essa revolução tecnológica nos últimos 30 anos. Com o auxílio das startups em aplicações para o agro, as Agtechs, acredito que teremos um futuro muito esperançoso, mantendo o Brasil na vanguarda no setor alimentício mundial”, conclui Daniel Nascimento.

Com informações de Olhar Digital.

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