A deputada transsexual Erika Hilton (PSOL-SP) sugeriu, nas redes sociais, que Oruam, filho do traficante Marcinho VP, se engaje com movimentos sociais alinhados à extrema-esquerda.
Disse estar “à disposição” para “construir junto” com o rapper, que tem tatuado no braço o rosto de Elias Maluco, condenado pela morte do jornalista Tim Lopes, a quem chama de “tio”.
Oruam já foi preso por direção perigosa e por abrigar um foragido da justiça.
Suas músicas fazem referência direta ao tráfico, e ele costuma exaltar o pai, líder do Comando Vermelho.
Essa aproximação não é isolada.
O texto é uma resposta à “Lei Anti-Oruam”, proposta para barrar contratações públicas de funkeiros ligados ao crime.
A defesa institucional a esse tipo de personagem repete o padrão adotado pelo partido com MC Poze do Rodo, preso em maio por associação ao Comando Vermelho.
Mesmo após o funkeiro admitir essa ligação, lideranças do PSOL, como Talíria Petrone e a própria Erika Hilton, classificaram a prisão como “racismo institucional”.
O discurso da legenda trata esses casos como expressões de uma “cultura periférica” supostamente perseguida pelo Estado. Mas, na prática, esse posicionamento pode fortalecer símbolos do tráfico, legitimando um discurso que romantiza o crime organizado.
Lei “Anti-Oruam”
Levantamento do Paraná Pesquisas mostrou que 68% dos paulistanos apoiaram a “Lei Anti-Oruam”.
Em 2025, 74% dos eleitores das classes C e D em São Paulo defenderam políticas de tolerância zero ao tráfico.
Essa desconexão entre a pauta do PSOL e as prioridades populares é recorrente. Segurança pública é apontada como principal preocupação do eleitorado, enquanto temas identitários e culturais recebem baixa adesão.
Mesmo assim, a legenda prioriza cotas para transgêneros no serviço público, combate às PPPs ambientais e redução da jornada de trabalho, temas pouco mencionados nas pesquisas de intenção de voto.
PSOL e as elites
A base do PSOL é formada majoritariamente por jovens universitários radicalizados.
Seu vocabulário político inclui termos como “necropolítica” e “interseccionalidade”, pouco compreendidos fora dos grupos militantes de extrema-esquerda.
A linguagem, o foco e os aliados do partido revelam um projeto voltado mais à militância de elite do que às demandas do eleitorado de base.
Na mídia e nas universidades, o PSOL mantém influência desproporcional.
Estudo do Manchetômetro indica que recebe 43% mais cobertura positiva que partidos do mesmo porte.
Essa visibilidade, no entanto, não se converte em votos.
Em 2024, Guilherme Boulos foi citado com neutralidade ou positivamente em 72% das reportagens, mas terminou com 29% dos votos. Pablo Marçal, com cobertura negativa majoritária, ficou com 28%.
O caso Oruam sintetiza esse paradoxo.
Um partido com pouca capilaridade popular, mas forte presença nas elites formadoras de opinião, segue priorizando personagens e pautas que não encontram eco na maioria da população.
Enquanto a esquerda radical celebra Oruam como “vítima do sistema”, a periferia mostra que sabe o que é o crime organizado.