Dois anos e pouco atrás, por razões que um dia ficarão satisfatoriamente esclarecidas, Alexandre de Moraes e o STF aproveitaram um quebra-quebra em Brasília para inventar que houve uma tentativa de “golpe armado” para derrubar o governo Lula, que acabava de ser empossado. Desde então, toda a vida política no Brasil vive em função desse “golpe”. Qualquer gesto de oposição ao consórcio STF-Lula, ou Lula-STF, é mecanicamente associado à “insurreição de direita”. Todas as violações da lei cometidas por Moraes e seus colegas passaram a ser “atos em defesa da democracia”. Bolsonaro, que já estava “inelegível” passou a ser ameaçado de prisão, pelo resto da vida, como chefe do golpe que nunca foi dado, nem poderia ser.
O verdadeiro problema, para Lula e o STF, é esse: Bolsonaro. No entender do consórcio Lula-STF, só ele ameaça realmente o seu projeto de ficar no governo para sempre. Bolsonaro, certo ou errado, é quem a maior parte dos eleitores de direita acha que tem as melhores condições de deter Lula – e os eleitores de direita são a maioria no Brasil de hoje. O STF teve de fazer os piores tipos de barbaridade para impedir sua reeleição em 2022, tirando Lula da cadeia, fazendo uma guerra feroz contra o seu governo e, ao fim, dirigindo com parcialidade sem precedentes a campanha eleitoral. Sua prioridade, agora, é dar uma “solução final” para o problema, e o Golpe dos Estilingues lhes parece o melhor instrumento para chegar lá.
O último capítulo da comédia (que para as vítimas é tragédia) foi o número de picadeiro de circo que montaram para decidir, sim ou não, se seis dos acusados do “golpe” deveriam ir a julgamento, como réus. O que você acha que aconteceu?
O regime em vigor não admitia, de jeito nenhum, que Bolsonaro ganhasse em 2022; não admite, obviamente, que ele possa ganhar em 2026. Mas ele já não está proibido de disputar eleição até 2030? O TSE (“missão cumprida”) não poderia resolver a parada na hora de contar os votos? Sim e sim, mas o STF, Lula e o seu sistema de apoio acham que isso aí não é suficiente, e querem se garantir fechando a coisa pelos sete lados: “inelegibilidade”, TSE garantido, Bolsonaro na cadeia. A condenação pelo “golpe” resolveria este último quesito – a cadeia.
Naturalmente, para prender Bolsonaro é preciso haver uma condenação, para haver uma condenação tem de haver um processo judicial e para haver um processo judicial é necessário, ou aconselhável, que haja provas de que houve mesmo a tentativa de golpe. A dificuldade disso tudo, que não irá embora nunca, é que não houve golpe nenhum, e como não houve golpe nenhum é impossível que haja provas. Fazer o que, então? Uma possibilidade seria esquecer e arquivar a coisa toda. Isso o consórcio acha que não pode aceitar, da mesma forma que não pode aceitar a anistia. Optaram, como se vê, por criar uma ilha da fantasia na qual inventam tudo, como no cinema: o processo, as provas e o julgamento.
É essa a encenação que você vê, lê e ouve no noticiário político do dia a dia. O último capítulo da comédia (que para as vítimas é tragédia) foi o número de picadeiro de circo que montaram para decidir, sim ou não, se seis dos acusados do “golpe” deveriam ir a julgamento, como réus. O que você acha que aconteceu? Os seis, por unanimidade absoluta, sem nenhum tipo de divergência por parte dos juízes do STF foram transformados em réus. Na verdade, estão é condenados antes do julgamento; pela conduta pública dos julgadores, que falam agressivamente contra eles, já são culpados e podem, até, ter as suas penas de prisão fixadas.
É um spoiler do que vai acontecer no ato final desta trapaça, a maior da história judicial do Brasil. Não foi apresentada pela PGR nenhum átomo de prova das acusações feitas contra os seis indiciados. Não foi admitida nenhuma alegação que os advogados de defesa fizeram – como se fosse possível eles estarem errados em tudo o que disseram. É isso, o processo do STF contra o “golpe”: fingem o delito, estão fingindo o processo e vão fingir o julgamento.
*Com informações gazetadopovo