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Para barrar projeto da anistia, Alcolumbre pede para Lula o comando do BB, Correios, agências reguladoras e cargo de Silveira

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Presidente do Senado vem aumentando a pressão para emplacar indicações na máquina federal em troca da governabilidade que deve garantir ao Palácio do Planalto; governo aposta na atuação do senador para barrar projeto da anistia

BRASÍLIA – Enquanto a negociação pela anistia dos envolvidos no 8 de Janeiro ganha terreno na Câmara, o governo Lula aposta numa promessa feita por Davi Alcolumbre de barrar o projeto no Senado caso ele seja aprovado na outra Casa. O senador pelo União Brasil do Amapá, no entanto, vem cobrando a fatura.

Alcolumbre não só aumentou a pressão para que Lula substitua o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, como tem tentado emplacar uma nova diretoria no Banco do Brasil.

As diretorias de agências reguladoras são outro motivo de divergência entre Alcolumbre e Silveira. O presidente do Senado não abre mão de indicar diretores da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) e ANM (Agência Nacional de Mineração), mas o ministro vem resistindo à ofensiva.

A briga se agravou em meados do ano passado porque, para se eleger ao comando do Senado, Alcolumbre prometeu a alguns colegas, como Eduardo Braga (MDB-TO) e Otto Alencar (PSD-BA), indicações em algumas agências. Com isso, os dois desistiram de se candidatar ao cargo, mas agora Silveira se coloca como obstáculo às promessas.

Ex-senador, Silveira foi indicado ao cargo pelo então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que chegou a comunicar ao Palácio do Planalto, no fim de seu mandato, que o ministro já não contemplava mais sua escolha. Silveira se aproximou de Lula e da primeira-dama Rosângela da Silva nos últimos dois anos — e agora é tido como alguém da cota pessoal do presidente.

O amapaense também fez um acordo para segurar a instalação de uma CPI (comissão parlamentar de inquérito) contra os Correios no Senado depois que conseguiu nomear um apadrinhado para a Diretoria de Negócios da estatal, dizem seus aliados.

O apadrinhado de Alcolumbre, Hilton Rogério Maia da Costa, foi superintendente da Codevasf no Amapá, terra do senador. O movimento estancou a pressão pela investigação contra os Correios, que vêm sendo alvo de críticas por conta de suas dívidas. A estatal de entrega de correspondências registrou o maior déficit entre as empresas federais, segundo dados divulgados pelo Banco Central em janeiro. Do saldo negativo total de R$ 8,07 bilhões entre as 20 estatais contabilizadas, R$ 3,2 bilhões foram dos Correios.

Questionado se acha que a CPI possa ser enterrada de vez por conta dessa nomeação, o senador Márcio Bittar (União-AC), vocal defensor de uma investigação contra os correios, limitou-se a dizer: “Tenho relação de amizade com Davi, mas isso não muda nada”.

A indicação era sensível uma vez que avançava num terreno sob influência da esquerda. O presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos, foi indicado pelo Prerrogativas, grupo de advogados progressistas que se empenhou por Lula na campanha presidencial de 2022. Além disso, a estatal tem uma série de superintendências estaduais – muitas vezes de indicações de deputados e senadores da base de apoio ao governo.

Alcolumbre voltou em fevereiro à presidência do Senado, que havia ocupado entre 2019 e 2021, alçado pela reputação de cumpridor de acordos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem se aproximado do senador visando a governabilidade que ele deve dar ao Planalto. Nos bastidores, governistas dizem que “mais vale um Alcolumbre aliado na mão do que toda a bancada do União Brasil voando”.

Senadores da oposição, alguns deles ouvidos sob reserva pelo Estadão, afirmam não acreditar numa “virada de costas” do presidente da Casa em relação à anistia. Eduardo Girão (Novo-CE) diz que “pode ser que ele (Alcolumbre) trave” a proposta, e pede pressão da oposição e das ruas para levar o texto a votação caso ele chegue ao Senado.

“A minha preocupação é com relação a acordões que foram feitos (por Alcolumbre), não apenas esse do Lula, mas esperar que o PL, que o apoiou em peso, tenha pelo menos pedido a neutralidade, a imparcialidade dele. Ou seja, que ele coloque (o projeto da anistia) em pauta”, diz Girão.

Na última segunda-feira, 14, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), protocolou um requerimento de urgência para a tramitação da proposta de anistia após reunir 262 assinaturas — pouco mais do que as 257 necessárias. O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), no entanto, tem dito que não vai decidir o avanço da pauta sem antes ouvir os outros líderes. A deliberação deve ficar para semana que vem.

Influente desde sua primeira passagem pela presidência do Senado, Alcolumbre tinha em sua conta duas indicações na Esplanada antes mesmo do retorno à cadeira: os ministros Waldez Góes (Integração Nacional) e Juscelino Filho (Comunicações), que demitiu-se após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por suspeita de corrupção com emendas parlamentares.

O Palácio do Planalto aposta agora na influência de Alcolumbre para resolver o impasse sobre a sucessão de Juscelino, uma vez que parte da bancada do União defende desembarcar de vez do governo. O senador agiu rápido para emplacar um novo indicado no Ministério das Comunicações, o deputado Pedro Lucas (MA) com receio da cobiça de outros partidos.

*Com informações estadao