Localizado ao lado do Parque da Cidade, no coração de Belém (PA), a Vila COP-30 promete uma recepção de alto padrão aos líderes da Cúpula do Clima, que serão hospedados em suítes cinco estrelas no hotel com posição estratégica e acesso direto à blue zone do evento, que será realizado no mês de novembro na capital paraense.
Além do conforto, tecnologia na construção e facilidades para os hóspedes, o local – também chamado de Vila Líderes – possui um diferencial no segmento cinco estrelas: o hotel será financiado com dinheiro público, por meio de um convênio com a Itaipu Binacional, com custo de cerca de R$ 200 milhões para receber a liderança mundial na região amazônica, por um período de no máximo duas semanas.
“Estamos construindo a Vila Líderes, que vai disponibilizar cerca de 500 quartos de padrão cinco estrelas, que vai ficar como legado para a cidade após a conferência”, anunciou o secretário da COP-30, Valter Correia.
O lado brasileiro da Itaipu Binacional justifica que o projeto se enquadra na “missão socioambiental” da empresa administrada pelos governos do Brasil e Paraguai. O convênio foi firmado em setembro do ano passado com a Secretaria de Obras Públicas do Pará com investimento de Itaipu no valor de R$ 200,3 milhões para a execução do complexo hoteleiro. No mesmo mês, também foi firmado um convênio de R$ 217 milhões para a dragagem do porto de Belém.
A Gazeta do Povo apurou que os convênios previstos nas planilhas da Itaipu Binacional ultrapassaram o orçamento de R$ 1,3 bilhão anunciado pelo governo Lula como parte dos investimentos da COP-30, pagos pela empresa binacional. No entanto, a organização do evento afirmou que os valores foram repactuados com a retirada do projeto no porto de Belém e manutenção dos recursos da Itaipu para a construção do hotel de alto padrão.
A usina hidrelétrica é criticada pela falta de transparência com os gastos que não são submetidos a órgãos de controle no país sob a justificativa que a empresa é gerida pelo modelo binacional. O setor elétrico também questiona o “orçamento paralelo” com recursos encaminhados para fins socioambientais desde o início de 2023, quando o presidente Lula nomeou o petista Enio Verri, como diretor-geral do lado brasileiro.
Hotel da COP-30: 405 suítes de alto padrão e torre central de atendimento
O consórcio Vila Líderes, formado pelas empresas DMDL e QDR Engenharia, venceu o processo de licitação para a construção da Vila COP-30 na avenida Brigadeiro Protásio, em Belém, com a proposta de R$ 194,9 milhões. O contrato – com duração de 20 meses – foi assinado no final de janeiro para edificação do hotel de 19 mil metros quadrados.
A empresa DMDL integra o consórcio que venceu a concessão para gestão e modernização do ginásio Mineirinho, em Belo Horizonte, em 2022. O consórcio formado pela DMDL e Progen Engenharia também foi responsável pela revitalização do Pacaembu, em São Paulo.
O projeto executivo do hotel da COP-30 prevê a construção de seis blocos com dois pavimentos, cinco deles para abrigar as 405 suítes do hotel que contará com uma torre central de serviços com recepção, lobby, back office, bar-café, restaurante, dois quiosques para venda de artesanatos e souvenires, duas salas de reuniões, conveniência e academia.
“O hotel proporcionará hospedagem de luxo e conforto para chefes de estado, dignitários, e outros líderes globais que participarão da COP-30, garantindo um ambiente seguro e acolhedor”, promete o governo do Pará no edital de licitação.
Governo exige construção modular para acelerar entrega do hotel da COP-30
Segundo o projeto executivo, 190 suítes de 30 metros quadrados, padrão AA+, serão equipadas com cama king size, painel decorativo, cafeteria, televisão LED 55’’ e cortina blackout, entre as benfeitorias para atendimento dos hóspedes nos quartos. Além disso, 100 unidades serão reservadas para solteiros e 90 para suítes de casal, ambos no padrão AA. Os 25 quartos restantes serão construídos para atendimento dos hóspedes com necessidades de suítes PCD.
“As edificações modulares geralmente são compostas por ambientes compactos, bem planejados e equipados e incluem aparelhos e acessórios modernos. O projeto é minucioso e preciso”, afirma a pasta de obras públicas no edital.
O governo do Pará exigiu que o hotel da COP-30 fosse edificado pelo “sistema steel deck aliado ao steel frame”, pois o modelo de pré-fabricação dos componentes deve reduzir o tempo da obra em até 40% com a construção modular. Segundo o edital, o steel frame é baseado na utilização de módulos metálicos padronizados, enquanto o steel deck é um sistema de laje mista, composta pela junção de telhas de aço galvanizado com uma camada de concreto.
“A escolha do método construtivo foi pautada pela necessidade de atender à entrega dentro de um tempo limitado. Além disso, foi selecionada uma solução que permita futuras adaptações, uma vez que o complexo será convertido posteriormente em um centro administrativo”, justifica. O governo paraense pretende incorporar o local para uso como prédio público pela gestão estadual. Assim, o hotel deve passar por adequações após a COP-30.
Capital escolhida como sede não tem capacidade hoteleira para evento
Com o apoio do governador Helder Barbalho (MDB) e do ex-prefeito de Belém Edmilson Rodrigues (Psol), o presidente Lula foi responsável pela articulação para sediar a Cúpula do Clima na capital paraense na região amazônica. No entanto, a cidade não possui capacidade no setor hoteleiro para atender a demanda de visitantes prevista pela COP-30.
A construção modular do hotel de luxo tem o objetivo de suprir a falta de infraestrutura para hospedagens, de acordo com o edital do governo paraense. “Belém precisaria de cerca de 35 mil leitos a mais em hotéis para atender a demanda estimada de visitantes da COP-30, que é de aproximadamente 60 mil participantes, segundo um levantamento da Associação Brasileira de Indústria de Hotéis (ABIH). Atualmente, a capital do Pará tem 25.367 vagas para hospedagem”, aponta o edital.
A área escolhida para a construção da Vila Líderes, entre o Parque da Cidade e o Hangar Centro de Eventos, também abriga o Batalhão de Operações Policiais Especiais, o Bope, da Polícia Militar do Pará. Entre as medidas para minimizar a falta de leitos de hospedagem, está o uso de embarcações como hotéis e o direcionamento dos visitas para atendimento em cidades vizinhas. A alta demanda e baixa oferta também provocaram a alta exorbitante dos valores das diárias em Belém.