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O Poder Público soca a boca do estômago da população

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Se os irresponsáveis que comandam o país não acordarem a tempo, em algum momento a fervura fará o caldeirão entornar o caldo

Nos últimos dias, a sociedade brasileira assiste, atônita e aparentemente anestesiada, a uma enxurrada de novas investidas do Poder Púbico contra os bolsos cada vez mais indefesos de trabalhadores simples, principalmente, mas também de empresários – pequenos, médios e grandes – e profissionais liberais e autônomos espalhados por todo o Brasil. Estou falando dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), nas três esferas (municipal, estadual e federal).

Apenas – repito! – nestes últimos dias, nos deparamos com ganhos mensais de centenas de milhares de reais de desembargadores; gastos federais em publicidade, previstos para 2025, na ordem de 3.5 bilhões de reais; uma folga a cada três dias trabalhados, com aumento de 22% no vale-refeição, para os servidores do Senado; uma ministra de Estado utilizando verba pública em benefício próprio; a possibilidade de aumento do número de deputados federais, de 513 para 527, já sendo o Congresso Nacional o segundo mais caro do mundo, atrás somente do parlamento americano, e, em Belo Horizonte, a Câmara Municipal querendo elevar para R$ 2.374 – 60% a mais que o salário mínimo atual – o valor do vale-refeição dos funcionários da Casa.

Tudo isso em meio a uma das mais elevadas carestias de alimentos dos últimos anos, agravada pela expectativa de mais uma rodada de aumento de juros – forte inibidor da atividade industrial, necessária para o aumento da produção – e as constantes oscilações do dólar, que trazem grande insegurança ao mercado importador/exportador, reduzindo a oferta de alimentos importados, favorecendo a exportação de commodities agropecuárias (ambos fomentadores do aumento dos preços internos). Sem falar, é claro, na sanha confiscatória de um governo irresponsável, perdulário e ineficiente, que opta pelo crescimento da tributação como forma de financiamento.

Caldeirão fervendo

Há décadas, a economia brasileira encontra-se ou estagnada ou em baixíssimo crescimento. Nos últimos dez anos, como exemplo, enquanto países como Índia e China saltaram, respectivamente, 77% e 74% em crescimento do PIB, o Brasil acomodou-se com pífios 8%, contra uma média mundial de 35%. O reflexo dá-se na cada vez maior informalização do mercado de trabalho, na precarização da mão de obra e na queda de produtividade do trabalhador brasileiro, concomitantemente à falta de infraestrutura sanitária e urbana, aumento da violência e a baixíssima qualidade da saúde e educação públicas. 

Viver está mais caro e mais difícil; a vida piorou sobremaneira. A falsa imagem de vidas prósperas e felizes das redes sociais traz cada vez mais desalento e frustração a quem não consegue nem sequer prover casa, comida e escola para os filhos, ainda que trabalhe como um condenado e sofra horas e horas diárias, em meio a deslocamentos caóticos – pelo trânsito parado e pela má qualidade do transporte público -, para ir e vir de casa para o trabalho e do trabalho para casa, pois é apenas a isso que resume-se a vida de dezenas de milhões de brasileiros.

Se os irresponsáveis que comandam o país não acordarem a tempo – e nada indica que irão; ao contrário -, em algum momento a fervura fará o caldeirão entornar o caldo, como aconteceu em 2013. Aliás, de lá para cá, a corrosão institucional e a expropriação da produção da sociedade pelo Poder Público só aumentou. Pior. Hoje, boa parte da corja política – boa parte não significa, obviamente, todos – perdeu a vergonha na cara e faz tudo às claras, sem medo de ser feliz.