O Amazonas vive, mais uma vez, um cenário de escândalos envolvendo a contratação de parentes para cargos públicos, prática conhecida como nepotismo. Prefeitos e vices utilizam-se do poder político para nomear familiares para cargos, desconsiderando a qualificação técnica dos profissionais. A situação já está na mira do Ministério Público do Amazonas (MPAM), que tem adotado medidas rigorosas para combater essa prática prejudicial ao serviço público.
Parintins: irmão da vice-prefeita é subsecretário
Um dos casos mais polêmicos envolve a cidade de Parintins, localizada a 369 quilômetros de Manaus. O MPAM está investigando a nomeação de Glauber Viana Gonçalves, irmão da vice-prefeita Vanessa Gonçalves, para o cargo de subsecretário municipal de Administração. Nomeado em janeiro de 2025, Glauber ocupa o cargo com um salário de R$ 5.231,00, o que gerou suspeitas sobre o favorecimento familiar.
O caso ganhou ainda mais atenção quando surgiram denúncias sobre o histórico de Glauber, acusado de ser funcionário fantasma da prefeitura. Além disso, ele é diretor da Rádio Clube de Parintins e apresenta um programa semanal, levantando questionamentos sobre sua real dedicação ao cargo público.
Coari: a família Pinheiro no controle
Outro município onde o nepotismo é alvo de investigação é Coari, sob a gestão do prefeito Adail Pinheiro (Republicanos). O MPAM emitiu uma recomendação para que o prefeito exonere servidores com parentesco até o terceiro grau de autoridades municipais, incluindo o próprio prefeito, o vice-prefeito e os vereadores. A família Pinheiro, que já controla a política local há anos, envolve filhos, sobrinhos e outros parentes em cargos importantes.
Embora a recomendação tenha sido emitida, o MPAM não especificou os nomes dos familiares ocupando esses cargos. A perpetuação do poder da família Pinheiro tem gerado protestos e críticas entre a população local, que acusa o clã de práticas clientelistas, beneficiando um grupo restrito de pessoas.
Boca do Acre: parentes ganham cargos
Em Boca do Acre, o MPAM investiga o nepotismo no governo local, com foco em três servidores comissionados que possuem vínculos familiares com o vice-prefeito Luis Alves (MDB). O Ministério Público emitiu uma recomendação para que esses servidores sejam exonerados, além de estabelecer um prazo de 15 dias úteis para que a prefeitura resolva a situação.
O promotor Marcos Patrick Sena Leite destacou que o nepotismo compromete a imparcialidade e eficiência da administração pública, prejudicando a qualidade dos serviços prestados à população. A recomendação também proíbe a contratação de empresas ligadas a familiares de autoridades municipais.
Itacoatiara e Manacapuru: nepotismo e falta de transparência
Outros municípios do Amazonas, como Itacoatiara e Manacapuru, também estão no centro de polêmicas envolvendo nomeações familiares. Em Itacoatiara, o prefeito Mário Abrahim (Republicanos) foi criticado por nomear sua esposa, Cristiany Costa Abrahim, como titular da Secretaria Municipal de Governo, gerando questionamentos sobre a transparência da administração pública, especialmente sobre a falta de informações sobre o salário da esposa no Portal da Transparência.
Em Manacapuru, a prefeita Valciléia Maciel (MDB) enfrentou protestos quando nomeou três parentes para cargos de confiança. Após a pressão, ela exonerou os familiares, mas as críticas sobre o uso político da administração pública permanecem. Em nota publicada em suas redes sociais, Valciléia acusou os críticos de sua decisão de agirem por interesses políticos.
O desafio do combate ao nepotismo
Apesar da legislação que proíbe o nepotismo, a prática ainda persiste em diversos municípios do Amazonas. Para o cientista político e advogado Carlos Santiago, o nepotismo compromete a eficiência da administração pública, privilegia interesses pessoais e perpetua o patrimonialismo. Ele afirma que o Ministério Público e o Tribunal de Contas do Estado (TCE) devem intensificar a fiscalização para coibir essas práticas prejudiciais à democracia e à qualidade dos serviços prestados à população.
“O nepotismo é um ato contra a administração pública, contra o bem comum e contrário a qualidade de serviços públicos, porque privilegia os parentes os interesses pessoais em detrimento da impessoalidade da qualidade dos serviços públicos. Ele também perpetua o patrimonialismo, o mal terrível para a democracia. E em nada contribui para melhorar a vida da coletividade. Ao contrário, busca manter privilégios para parentes, pessoas próximas do poder. Cabe o MPAM e o TCE, que é um órgão muito caro, a fiscalização dos atos da administração dos municípios e uma vez encontrado nepotismo promovam ações necessárias para combater esse mal que tanto agride a coletividade, a impessoalidade e a eficiência dos serviços públicos”, disse.