Manaus – Um levantamento realizado pela Perspectiva Mercado e Opinião expõe uma realidade preocupante no mercado de combustíveis da capital amazonense: os preços da gasolina comum e de outros combustíveis apresentam uma uniformidade alarmante, com variações mínimas entre os postos, independentemente da bandeira. O estudo intitulado “Levantamento de Preços nos Postos de Manaus: Dados e Análises Estatísticas” sugere que a falta de concorrência efetiva pode estar por trás desse cenário, levantando suspeitas de um possível alinhamento de preços que prejudica os consumidores.
A pesquisa, conduzida no dia 28 de fevereiro de 2025, analisou os valores praticados em 245 postos de combustíveis espalhados por Manaus. Os dados foram coletados in loco por uma equipe de cinco pesquisadores, que percorreram a cidade em mototáxis e registraram fotograficamente os preços exibidos nas placas dos estabelecimentos. O resultado é claro: a gasolina comum tem uma média de R$ 7,29 e uma mediana idêntica, indicando que quase não há oscilações significativas. A gasolina aditivada segue o mesmo padrão, com média de R$ 7,30 e mediana de R$ 7,29, enquanto o etanol registra preços concentrados em R$ 5,49 e o diesel S500 fica na casa dos R$ 6,88 a R$ 6,89.
Essa homogeneidade nos preços chama a atenção especialmente quando se observa a distribuição das bandeiras. Grandes redes, como Atem, Shell, Equador, Petrobras e Ipiranga, dominam 95% do mercado manauara, enquanto pequenas redes – como RZD, Auto Posto Brasil e Via Norte – representam apenas 12 postos no total. Apesar da presença de diferentes marcas, o estudo aponta que os valores praticados são praticamente iguais, independentemente da bandeira ou da localização do posto. “Os gráficos de dispersão mostram que a maioria dos estabelecimentos opera em uma faixa estreita, entre R$ 7,27 e R$ 7,30 para a gasolina comum, com raras exceções abaixo disso”, destaca o relatório.
Para especialistas, esse padrão pode ser um indicativo de práticas anticompetitivas. Em um cenário de livre concorrência, seria esperado que os postos disputassem clientes com promoções ou reduções pontuais, algo que não se observa em Manaus.
O estudo da Perspectiva também reforça a percepção dos consumidores locais, que há tempos reclamam da falta de opções e da sensação de estarem reféns de preços inflados.
Embora o relatório não acuse diretamente os postos de formação de cartel – prática ilegal que exige investigação formal por órgãos como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) –, ele acende um alerta para a necessidade de maior fiscalização. No último mês, o Ministério Público do Amazonas (MPAM) já havia aberto uma investigação sobre possíveis aumentos abusivos nos preços da gasolina e do etanol, após denúncias de consumidores. O levantamento da Perspectiva pode servir como mais um elemento para embasar essas apurações.
Enquanto isso, os motoristas de Manaus seguem pagando caro por um mercado que parece operar em sintonia suspeita. Resta agora saber se as autoridades vão agir para desmontar o que muitos já chamam de “máfia dos combustíveis” na capital amazonense.