O que é preciso para vencer a Bola de Ouro? O querido leitor e a querida leitora podem responder que basta se destacar individualmente em um time que também tenha força coletiva, de preferência em uma temporada regada a conquistas.
Mas nada é óbvio no maravilhoso universo paralelo das premiações, lamenta informar este humilde escriba —é só ver os Oscars de “Crash – No Limite” ou “Green Book”, em anos em que notadamente Cris Ronaldo foi melhor.
Em uma busca minuciosa no colega Google, apurei que, para vencer a Bola de Ouro, também é avaliada “a classe do jogador, baseada em fair play e talento”. Excelente, eles conseguem medir talento. Por último, há o tópico “carreira do atleta”. Ué, mas o prêmio não é para a temporada? Sim, e não. Daí entende-se por que Messi e CR7 levaram trocentos prêmios.
Portanto, não basta ser o melhor do ofício, não para o Bola de Ouro. Para vencer exige-se também um certo carisma, basicamente é um Miss Simpatia disfarçado de futebol.
O último vencedor brasileiro da Bola de Ouro foi Kaká, no longínquo 2007, um verdadeiro craque-simpatia, e gato. Não me lembro de Kaká ter dito um palavrão na carreira, talvez tenha dito em italiano no Brasil e em português na Itália, para não aborrecer ninguém.
Tudo isso para dizer que, se a Bola de Ouro não reconhece a temporada de Vinicius Junior, azar da Bola de Ouro. Todo mundo que assistiu a meia dúzia de jogos no período não tem a menor dúvida de que Vini foi o grande nome do ano futebolístico.
Mas Vini também ganharia o prêmio de jogador mais polêmico do ano. E não é só a luta antirracismo, que talvez incomode uma turma de votantes, há também o comportamento de Vini em campo, que, aparentemente, irrita rivais e técnicos. Já teve mais de um treinador ou ex-jogador (incluindo do Real) que veio a público para dizer que Vini deveria ser menos provocador.
Talvez esse seja o segredo: menos gols, menos assistências e mais sorrisos. Vini precisa driblar o rival e depois pedir desculpa. É o tipo de fair play que pode render prêmios.
Criada pela revista France Football, a premiação já foi associada à Fifa, agora está mais ligada à Uefa.
Nos anos Fifa, dizia-se que o resultado da Copa era fundamental para a premiação a cada quatro anos. Dane-se o resto da temporada. Ao premiar o espanhol Rodri e preterir Vini, a Uefa avisa que vai pelo mesmo caminho, trocando a Copa pela Euro.
Não que o resto do ano de Rodri tenha sido ruim. Além do título da Eurocopa, ele foi o líder em campo do avassalador Manchester City, campeão da Premier League e do Mundial de Clubes, mas foi eliminado da Champions antes da final. E por quem? Pelo Real, de Vini.
Vinicius não só levantou o caneco como já tem no currículo gols em duas finais de Champions (olha a carreira aí).
A desculpinha de que Vinicius foi mal na Copa América para tirar dele o prêmio é só isso mesmo, desculpinha.
Até outro dia, Messi pensava em abandonar a seleção pela coleção de fracassos com a camisa da Argentina. Nem por isso deixou de ganhar a premiação. Cris Ronaldo idem. Só tem uma Euro no currículo —cuja final ele praticamente não jogou, pois se contundiu no começo do duelo.
E se o resultado da seleção for o principal, o norueguês Haaland pode esquecer também. Vai ter que se contentar com essas chuteirinhas de ouro, ou com anos ímpares (sem Copas).
Na verdade, deveríamos dar menos pelota para a tal Bola de Ouro, cuja cerimônia, mesmo com Natalie Portman, consegue deixar a do Oscar excitante. Mas a vitória de “Crash” continua inexplicável.