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Estol e acúmulo de gelo nas asas: entenda hipóteses para acidente aéreo em SP

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O acidente aéreo em Vinhedo (SP), que resultou na morte de 61 pessoas, pode ter sido causado por diferentes fatores, inclusive gelo na asa

Uma tragédia aérea ocorreu na cidade de Vinhedo, interior de São Paulo, nesta sexta-feira (10), resultando na queda de um avião ATR-72 da Voepass e na morte de 62 pessoas (58 passageiros e quatro tripulantes). As autoridades e especialistas investigam as causas do acidente, que ainda devem demorar a ser concluídas.

Enquanto informações oficiais não chegam, duas hipóteses ganharam destaque entre os especialistas: o estol da aeronave — um fenômeno caracterizado pela perda de sustentação —, e o acúmulo de gelo nas asas. Ambas as situações estão diretamente ligadas às condições atmosféricas adversas que predominavam na região no momento do acidente, e têm o potencial de provocar a perda abrupta de sustentação do avião, levando a uma queda fatal.

O acidente aéreo de Vinhedo (SP)

  • Um avião ATR-72-500 caiu na cidade de Vinhedo (SP) enquanto ia de Cascavel (PR) para Guarulhos (SP);
  • Às, 11h52, o avião demonstrou uma primeira falha, quando teve queda brusca em sua velocidade: de 529 km/h, caiu para 398 km/h em apenas 30 segundos. A pane se repetiu às 13h20. Especialistas informam que isso pode significar problema no fluxo combustível;
  • A aeronave estava a 5.242 m de altura, altitude que pode provocar a formação de gelo nas aeronaves, que possuem sistema para degelo;
  • Ele despencou quase quatro mil metros em apenas dois minutos. O avião estava a 17 mil pés de altitude e a quatro mil às 13h22, momento no qual a ferramenta de rastreamento do voo perdeu o sinal de GPS da aeronave;
  • Como os vídeos mostram, o avião caiu em um “parafuso chato”;
  • Ao cair no chão, ele explodiu, matando todos a bordo;
  • O processo de resfriamento dos destroços terminou no início da noite desta sexta-feira (9), permitindo o início do trabalho de perícia e resgate dos corpos.
avião atr-72
ATR-72 da Voepass sobrevoa a cidade de Vinhedo (SP). Aeronave do mesmo modelo e companhia aérea caiu na região. (Imagem: Miguel Lagoa / Shutterstock.com)

O que é estol?

“A ideia geral é de que realmente teve um possível estol”, afirmou o especialista em segurança de voo Roberto Peterka, ao Olhar Digital. “O estol é quando o avião perde a sustentação e ele afunda. E por que ele perde a sustentação? Ele perde a sustentação por redução de velocidade. A velocidade dele cai abaixo da necessária para manter a sustentação das asas.”

Para que um avião se mantenha no ar, as asas desempenham um papel fundamental na sustentação. Elas são projetadas com uma aerodinâmica específica que permite a diferença de velocidade do ar entre a parte superior e inferior da asa.

A parte superior é curvada, enquanto a inferior é praticamente reta. Essa diferença de velocidade gera uma diferença de pressão, empurrando a asa para cima, o que garante a sustentação necessária para o voo.

Existem várias situações que podem levar um avião a entrar em estol. Uma delas é quando a inclinação da aeronave ultrapassa o limite máximo, dificultando a circulação do ar sobre a parte superior da asa.

atr-72
Perda de sustentação para o voo pode ter levado à maior tragédia da aviação em solo brasileiro desde 2007. (Imagem: Skatty / Shutterstock.com)

Nesse caso, o ar atinge principalmente a parte frontal da asa, o que aumenta o arrasto e exige mais força para manter o voo. Além disso, a redução significativa da velocidade também pode contribuir para a perda de sustentação, uma vez que o fluxo de ar sobre a asa se torna insuficiente.

Nos aviões de pequeno porte, a proximidade de um estol pode ser alertada por um sinal sonoro, semelhante a uma buzina. Já nas aeronaves comerciais, o sistema costuma emitir uma vibração no manche, alertando os pilotos sobre o risco iminente.

Acúmulo de gelo nas asas

Peterka desta que o gelo em si não é uma ameaça para a aviação, mas sim “a formação ou acúmulo de gelo, por exemplo, no bordo de ataque da asa”. Ele continuou: “Se você começa a acumular gelo, ele vai deslocar onde batem as moléculas de ar e vai passar por cima da asa ou por baixo da asa e não vai dar sustentação, além de criar uma sombra na parte de trás da asa onde estão os controles de voo.”

O especialista destaca que, como o avião estava certificado para voar, devia ter um equipamento que elimina o gelo acumulado.

À medida que [o gelo] vai acumulando, [o avião] ou liga o equipamento elétrico que faz um aquecimento em todo o bordo de ataque ou existe outro sistema pneumático que vai correndo por dentro da asa e vai quebrando o gelo para voltar a asa a ser um aerofólio como ele é projetado para dar sustentação.Roberto Peterka, especialista em segurança de voo

A região onde o acidente ocorreu estava sob alerta para “formação severa de gelo”. Quando o gelo se acumula nas asas, ele pode alterar a curvatura delas, o que compromete a sustentação da aeronave.

Se a curvatura das asas for alterada de forma significativa, a aeronave pode perder totalmente a sustentação, resultando em uma queda vertiginosa, similar a uma pedra caindo, como observado no acidente de hoje.

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