A imprensa brasileira tem mudado seu discurso sobre o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, ser um político “progressista de esquerda”. A transformação no tratamento se deu depois de o chavista questionar o sistema eleitoral brasileiro durante um comício na noite desta terça-feira, 23, no Estado de Aragua.
Na ocasião, Maduro exaltou o sistema eleitoral venezuelano, o qual, segundo ele, realiza 16 auditorias, incluindo uma em tempo real, em 54% das urnas. Nesse sentido, desafiou o modelo de outros países.Play Video
“Em que outra parte do mundo fazem isso?”, indagou Maduro. “Nos Estados Unidos? O sistema eleitoral é auditável? No Brasil? Não auditam nem uma ata. Na Colômbia? Não auditam nem uma ata.”
Bastou o ditador da Venezuela reclamar do sistema eleitoral brasileiro para que parte da imprensa tradicional iniciasse uma série de críticas. A mídia começou a tratar Maduro, agora, como um político de “extrema direita”. O chavista chega a ser comparado ao ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL).
Nesta quarta-feira, 24, a colunista de política e economia do portal UOL Raquel Landim publicou um artigo com a seguinte chamada: “É inadmissível tolerar fala bolsonarista de Maduro sobre eleições no Brasil”.
“Maduro disse que as urnas brasileiras não são auditáveis, dando margem a questionamentos sobre os resultados das eleições”, escreveu a jornalista. “É exatamente o mesmo argumento usado pelos bolsonaristas.”
O artigo repercutiu nas redes sociais. Entretanto, não com críticas positivas. Políticos de direita questionaram o argumento apresentado por Raquel Landim. Bolsonaro, por sua vez, tomou um tom mais irônico: “Maduro is my friend kkkkkkkk”.
Imprensa segue comparando Maduro à “extrema direita”
O jornal O Globo também foi na mesma linha de comparação. A reportagem “Maduro adota discurso da extrema-direita e diz que sistema eleitoral do Brasil não é auditável” afirma que o chavista, “em uma escalada retórica” com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez uma declaração sobre nosso sistema eleitoral que é “largamente rebatido pelas instituições brasileiras”.
Até mesmo o site O Antagonista entrou na onda da imprensa tradicional: “Maduro adere à narrativa bolsonarista sobre urnas brasileiras”.
Reinaldo de Azevedo, âncora na BandNews TV e colunista do UOL, fez um vídeo detalhando o porquê Nicolás Maduro — a partir de agora — adota um discurso “bolsonarista”.
“Atenção, esquerdas brasileiras”, iniciou Azevedo. “Tá aí, o senhor Nicolás Maduro agora está repetindo, sobre as eleições brasileiras, aquilo que diz Jair Bolsonaro.”
🚨 URGENTE – Reinaldo de Azevedo diz que Maduro é fascista como Bolsonaro, que, segundo ele, tinha perspectiva chavista de governo
“Chega de endossar fascistóide que repete lá, sobre as eleições brasileiras, o que diz a extrema direita aqui.” pic.twitter.com/xQvwaiq8Un
— SPACE LIBERDADE (@NewsLiberdade) July 24, 2024
Políticos de esquerda já contestaram urnas eletrônicas
Apesar de parte da imprensa brasileira tentar associar Maduro à “extrema direita” em razão de críticas às urnas eletrônicas do país, políticos de esquerda já adotaram postura similiar.
Leonel Brizola, liderança histórica do PDT, chegou a contestar o sistema de apuração eletrônica quando perdeu as eleições pela Prefeitura do Rio de Janeiro em 2000. Ao ter só 9% das intenções de voto no primeiro turno, ele afirmou ao jornal Folha de S.Paulo que o país tinha perdido “o direito à recontagem”.
O atual presidente nacional do PDT e ministro da Previdência, Carlos Lupi, também já defendeu o retorno do voto impresso no país. Pelas redes sociais, divulgou um vídeo em fevereiro de 2022 em que fala que a posição do partido é a mesma “há mais de 20 anos”.
“A urna eletrônica deveria ter a impressão do voto do lado, com uma impressora, com uma tela transparente, para se conferir o voto e depois ir para a urna”, afirmou Lupi à época.
O ex-ministro da Justiça e atual integrante do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, também já duvidou das urnas eletrônicas, como mostrou reportagem especial de Oeste.
Em 2013, quando era presidente da Embratur e já pensava em se candidatar ao cargo de governador do Maranhão, Dino tuitou: “Hoje, em Recife [sic], vi a comprovação científica de que as urnas eletrônicas são extremamente inseguras e suscetíveis a fraudes”.