São Paulo, Brasil
Nacionalismo, ‘pé no chão’ e Seleção aprendendo a jogar sem Neymar.
E sem querer ser revolucionário como Guardiola, como sonhava Fernando Diniz.
Dorival Junior, na sua coletiva como treinador da Seleção Brasileira, mostrou seriedade, firmeza.
E que será convencional taticamente.
Sabe que com a atual geração de jogadores, que chegará para a Copa dos Estados Unidos, não há a possibilidade de grandes sonhos ofensivos, como se deixou levar Diniz.
Dorival Junior tem como inspiração trabalho de Luiz Felipe Scolari, no longínquo ano de 2002.
Sabe que será obrigado a dar chances a novos atletas.
Tentará formar um grupo unido, como fez no São Paulo.
Quase uma família.
Dorival teve de mostrar que o trabalho confuso de Diniz não terá continuidade. De maneira sutil, ele mostrou.
“Acho que não é nem uma mudança de nomes, o que vem acontecendo de uma maneira gradativa em relação à Seleção que jogou a última Copa. É uma mudança emocional, postural.
“Uma mudança que o atleta tem que entender que está aqui vestindo uma camisa muito pesada, referência no mundo todo. Se nesse instante, não estamos em uma posição adequada em relação à nossa classificação para a próxima Copa, vamos tentar o máximo para reverter tudo isso.
“Primamos por ter um futebol vistoso, bem jogado, mas acima de tudo efetivo. Não podemos deixar essas características. Temos que tentar manter o máximo possível. Temos que voltar a fazer grandes jogos.
“Todos nós temos que entender um pouco mais o que representa essa Seleção. Acima de tudo, que cada um assuma um pouco mais a responsabilidade quando forem convocados.”
Dorival não teve como fugir da pergunta se o seu estilo é ‘feijão com arroz’. Ou seja, monta equipes no 4-4-2, com poucas variações táticas.
E é verdade.
Ele não gostou da pergunta.
“Eu fico muito tranquilo. Minha primeira equipe, o Figueirense, depois a quarta equipe, o Figueirense, a décima equipe que foi o Santos de 2010, a penúltima o Flamengo, a última o São Paulo. Todas jogavam de uma forma diferente. Então esse feijão com arroz tinha sempre um tempero diferente de cada estado.
“Eu ajudei a salvar seis equipes grandes do rebaixamento.
“E cheguei a decisões importantes de competição. Não voltei três vezes ao Flamengo, duas ao Santos, duas ao São Paulo por acaso. Foi porque deixei algo plantado. Se foi um feijão, ou se foi um arroz, eu acho que agradei. E retornar é muito difícil. Em algumas eu havia ganho campeonatos, em outras não.”
Ele deixou claro que o Brasil não fará loucuras táticas, não atuará aberto, escancarado, como acabou jogando nas mãos de Diniz. Chegando à loucura de atuar como nos anos 60, no 4-2-4.
Disfarçou, mas deixou escapar que o ‘seu’ Brasil marcará forte.
“Em todas as equipes, eu me adaptei à equipe. Nunca chego com sistema pré-estabelecido. Prefiro identificar o tenho à mão e depois empregar um sistema. Números para mim são relativos: 3-5-2, 4-3-3, para mim isso é balela.
“Quero defender com maior número possível e defender com o maior número possível de jogadores. Muito difícil falar agora entre os sistemas do Fernando, do Ancelotti, até porque eles estão em clubes. E dentro de uma seleção é um pouquinho diferente. Esse encaixe é fundamental, para que na prática as coisas deem encaixe.”
Aos 61 anos, Dorival sabe que teve muita sorte em assumir o cargo.
O emprego deveria ser de Carlo Ancelotti, se o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, não fosse destituído e depois readquirido o cargo.
“Em duas ou três oportunidades, meu nome foi ventilado e acabou não acontecendo. Quando surgiu dessa vez, da maneira como foi, também imaginei que fosse uma especulação natural de mercado pela saída do Fernando. De repente, se concretizou. Para mim, não criei expectativa, como havia criado anteriormente.
“Fato natural, você está envolvido. Mas procurei não criar expectativa e a partir do momento que recebi uma chamada, as coisas mudaram um pouco. Era sonho, era objetivo. Eu não saí do São Paulo. Eu não troquei o São Paulo. Estou vindo para uma Seleção. Não é um convite, é um chamado. Nenhum profissional em sã consciência deixaria de atender.”
Neymar foi o capítulo mais especial da coletiva de hoje. Todos se lembram que, em 2010, Dorival Junior perdeu o cargo no Santos, quando o jogador fez um escândalo desmoralizante. por não bater um pênalti contra o Atlético Goianiense, na Vila Belmiro. Dorival não aceitou a indisciplina e quis tirá-lo da equipe. Acabou perdendo o emprego.
“Não tenho problema nenhum com o Ney. A proporção que aquela situação tomou foi desproporcional. Após aquela partida nós já estávamos conversando. A diretoria do Santos tomou uma decisão e eu respeitei. Mas sempre que nos encontramos foi uma situação positiva. O futebol é muito dinâmico. O céu e o inferno estão a um palmo de distância.”
Mas o complemento de Dorival foi importante.
“Brasil tem que aprender a jogar sem o Neymar.
“Porque agora ele tem uma lesão.
“Mas nós temos um dos três maiores jogadores do mundo, e depois vamos contar com ele.”
Ou seja, Neymar pode até voltar, como quer Ednaldo.
Mas o Brasil aprenderá a jogar sem ele, promete Dorival.
Resta esperar para ver…