Era dia 6 de dezembro de 2023 quando o Palmeiras confirmou o título brasileiro, tornou-se dodecacampeão nacional e assim promoveu uma mudança no cenário do futebol da América do Sul: virou o primeiro clube brasileiro líder no ranking da Conmebol desde 2016, quando a entidade passou a utilizá-lo como critério para chaveamento na Libertadores.
Em oito anos, portanto, o Palmeiras arrastou taças, ultrapassou rivais e subiu de 31º até a liderança na classificação.
Só três clubes, aliás, passaram pelo primeiro lugar desde 2016: o Boca Juniors, entre 2016 e 2017, o River Plate, dominante de 2018 a 2023, e por fim o Palmeiras, alçado ao topo para 2024.
Tudo começou no fim de 2015, quando a Conmebol decidiu lançar um novo formato de ranking, que serviria para definir os cabeças de chave e os integrantes de cada pote do sorteio de grupos para a Libertadores – válido desde 2016. Em 2021, foram incluídos os números na Sul-Americana.
Atualmente, os critérios adotados pela Conmebol são: desempenho nos últimos 10 anos da Libertadores e Sul-Americana, coeficiente histórico – com uma pontuação para o retrospecto entre 1960 e 2013 – e bônus para títulos nacionais. Uma tentativa de conciliar novos feitos e a história escrita.
No ranking de 2022, por exemplo, o Palmeiras permaneceu em segundo, atrás do River Plate, mesmo com o bicampeonato da Libertadores, justamente por conta do sistema de pontuação adotado. Mas à medida que o Verdão manteve a sequência, e o River não, a liderança mudou.
Como era antes?
Antes de 2015/2016, inicialmente a entidade somava as participações em todas as competições organizadas desde 1960, considerando o número de jogos, independentemente do resultado, e fazia rankings por países. Esse formato foi descontinuado em 2013.
Entre 2011 e 2013, a entidade ainda fez um ranking paralelo considerando o desempenho nos cinco anos anteriores (contando com Libertadores, Copa Sul-Americana, Recopa Sul-Americana, Copa Suruga e Mundial de Clubes) e passou a ter uma versão unificada, de todos os países juntos.
As atualizações eram semanais, em vez da versão anual como agora, e nesse período o Internacional chegou a ser líder.
A arrancada do Palmeiras
No caso do Palmeiras, ao mesmo tempo em que a Conmebol passou a adotar o ranking como critério para os sorteios da Libertadores, ao fim de 2015, o clube alviverde começava a se reestruturar.
O clube havia passado por um rebaixamento em 2012, conviveu com graves problemas financeiros, subiu para a Série A, mas ainda brigou para não ser rebaixado no ano seguinte. Em 2013, por exemplo, toda a receita para o ano terminou em abril. Ela era de apenas 25% do valor total previsto, porque os 75% restantes haviam sido adiantados por outras gestões.
Entre 2014 e 2015, o Palmeiras iniciou um movimento de mudanças de gestão, além da chegada de um novo patrocinador e a impulsão do programa de sócio-torcedor. No futebol, Alexandre Mattos assumiu como diretor executivo – onde permaneceu até 2019, saindo para a chegada de Anderson Barros.
Assim, quando a Conmebol lançou o primeiro ranking para a Libertadores, ao fim de 2015 e válido para 2016, o Palmeiras estava em 31º. O argentino Boca Juniors liderava a lista, e o primeiro brasileiro era o Cruzeiro, em 4º.
Ranking Conmebol 2016
- Líder: Boca Juniors (5.949)
- Primeiro brasileiro: Cruzeiro, em 4º (4.425)
- Palmeiras em 31º (772)
O Palmeiras subiu posições de forma tímida até a edição de 2018, em 22º lugar. Mas deu um salto para figurar no top-10 do ranking de 2019, subindo para o 7º lugar após a conquista do Brasileiro e a campanha até as semifinais da Libertadores do ano anterior (2018).
Ranking Conmebol 2019
- Líder: River Plate
- Primeiro brasileiro: Grêmio, em 3º
- Palmeiras: 7º
Mas foram os últimos quatro anos, de 2020 a 2023, que turbinaram o Palmeiras até a liderança do ranking. O clube conquistou 11 títulos, sendo uma Recopa Sul-Americana, duas Libertadores e dois Brasileiros válidos para a contagem. Assim, subiu para 6º, 4º, 2º e por fim 1º, ao longo dos últimos cinco anos.
Mudanças no Ranking da Conmebol
Líder | Primeiro brasileiro | Posição do Palmeiras | |
2016 | Boca Juniors | Cruzeiro, em 4º | 31º |
2017 | Boca Juniors | São Paulo, em 6º | 25º |
2018 | River Plate | Grêmio, em 3º | 22º |
2019 | River Plate | Grêmio, em 3º | 7º |
2020 | River Plate | Grêmio, em 3º | 6º |
2021 | River Plate | Grêmio, em 3º | 4º |
2022 | River Plate | Palmeiras, em 2º | 2º |
2023 | River Plate | Palmeiras, em 2º | 2º |
2024 | Palmeiras | Palmeiras, em 1º | 1º |
Fonte: Rankings da Conmebol
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Uma escalada que passa pela manutenção de peças decisivas no elenco e também pelo comando da equipe: o técnico Abel Ferreira.
Contratado em outubro de 2020, o português é uma das principais engrenagens deste Palmeiras multicampeão, tornando-se, inclusive, o segundo treinador com mais títulos na história do clube – são nove, atrás apenas de Oswaldo Brandão, que tem 10.
Abel levanta descontentamento em parte da torcida pela insistência em peças em baixo rendimento, ao mesmo tempo em que está há três anos no clube, conhece o elenco com a palma da mão e transformou o time em uma equipe que se reinventa, muda e está sempre se desafiando, como analisou o comentarista Cabral Neto, ainda em março de 2022, pouco antes do título paulista.
– Nada nesse Palmeiras funciona por improviso, há razão e propósito. O Palmeiras não é imbatível, o sucesso não vai durar para sempre, porque nenhum sucesso é eterno, mas a grande virtude desse time é o de não ter medo do erro – afirmou.
E a temporada de 2023 é exemplo disso.
A eliminação na semifinal da Libertadores, em outubro, parecia decretar o fim de um ano sob críticas e protestos da torcida. A equipe sentiu, emendou quatro derrotas seguidas no Brasileiro e chegou a ficar 14 pontos atrás do então líder, Botafogo.
Foi aí que o técnico mudou o esquema do time, passou a atuar com três zagueiros – para suprir a ausência do destaque Dudu -, contou com o brilho de Endrick e tirou a diferença de pontos para conquistar o bicampeonato.
– Ganhou a equipe que foi capaz de lidar melhor com os momentos de dificuldade. A equipe que não desistiu – disse o técnico após o título.
– Dissemos que só tínhamos um caminho, que era lutar pelo título até o fim, e outro que era nosso orgulho, nosso caráter, de uma equipe que ganha títulos de forma consistente. Era trazer esse orgulho que andou perdido em algum momento deste ano – completou.
Pouco mais de um mês depois, a Conmebol confirma – na divulgação do ranking – a ultrapassagem sobre o River Plate e o Palmeiras, líder pela primeira vez.