Principal empresa de Ana Hickmann, a Hickmann Serviços está sendo processada na Justiça sob a acusação de ter emitido R$ 2,2 milhões em duplicatas suspeitas e não pagas. Entre elas, estão dez títulos disparados contra a Record, no total de R$ 714,5 mil. A emissora afirma que não remunera a apresentadora mediante a apresentação de duplicatas e que, até a semana passada, desconhecia a existência delas.
A ação está sendo movida pelo FIDC (Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios) da Valecred, uma financeira de Tatuí (interior de São Paulo). Foi protocolada na última terça-feira (12) na 1ª Vara Cível de Pinheiros (zona oeste de São Paulo). A Valecred também cobra na Justiça uma outra dívida da Hickmann Serviços, atualizada para o valor de R$ 1,762 milhão.
Duplicatas são títulos geralmente lastreados por notas fiscais ou contratos acompanhados de boletos de cobrança bancária. Costumam ser usados para a antecipação de recebíveis futuros.
No caso da Valecred, a Hickmann Serviços vendeu os títulos para a financeira e recebeu, em agosto, R$ 2,2 milhões por elas (a dívida já foi atualizada para R$ 2,4 milhões).
Nesse tipo de operação, o comprador das duplicatas costuma confirmar a autenticidade dos documentos com os sacados (empresas que em tese pagarão a duplicata, como a Record). Quando o sacado reconhece a existência de relação comercial (a compra de produto ou serviço) e paga a duplicata, o valor vai diretamente para o comprador do título (no caso, a Valecred).
Ocorre que nenhuma das 40 duplicatas emitidas pela Hickmann Serviços foi paga pelos sacados, de acordo com o escritório de advocacia Iritani & Coelho, especializado em operações de crédito, autor das ações da Valecred. Ou seja, a financeira não recebeu nenhum centavo dos R$ 2,2 milhões que antecipou à empresa de Ana Hickmann e Alexandre Correa, seu marido.
O fato de a Valecred ter tomado calote não significa que as duplicatas são “frias”. A maioria delas, segundo os advogados, tem lastro em serviços prestados por Ana, como apresentação de programas e ações de merchandising na Record, participação em eventos corporativos e publicidade em redes sociais. Mas, como as duplicatas não foram pagas à Valecred, isso as torna suspeitas e configura apropriação indébita, crime previsto no artigo 168 do Código Penal.
Na ação, a Valecred afirma que a Hickmann Serviços emitiu duplicatas “frias”, mas “em outros processos”. E não aponta quais.
Ao Notícias da TV, a Record confirmou que não paga Ana Hickmann mediante apresentação de boletos/duplicatas. Os depósitos são feitos diretamente em conta corrente após a emissão de nota fiscal.
Segundo a emissora, não houve nenhuma comunicação da Hickmann Serviços sobre a venda de duplicatas para a Valecred. E a financeira, de acordo com a Record, só apresentou as duplicatas na semana passada, quando todas já estavam vencidas, e os valores a que se referiam já tinham sido depositados na conta da Hickmann Serviços.
Nas duas ações, a Valecred pediu o arresto de imóveis, cotas e lucros de empresas e até das receitas que Ana Hickmann com publis em redes sociais para garantir o recebimento das dívidas. Na primeira ação (de R$ 1,762 milhão), a Justiça negou o arresto, medida em que bens só podem ser vendidos com anuência de credores e juízes.
Ana Hickmann e Alexandre Correa estão separados desde 11 de novembro, quando ela o denunciou à polícia por violência doméstica e patrimonial. O escândalo trouxe à tona o endividamento do casal, que estaria entre R$ 34 milhões e R$ 40 milhões.
Ana também acusa Correa de ter desviado R$ 25 milhões de suas empresas e de ter falsificado assinaturas, o que ele nega. O empresário afirma que todo o endividamento é consequência de negócios malsucedidos feitos pela apresentadora durante a pandemia, quando ele estava afastado para tratar um câncer.
Procurado para esclarecer as duplicatas suspeitas, Correa não se manifestou. Pediu para a reportagem falar com a assessoria de Ana, que também não se pronunciou.