A operação Disco de Ouro, da Polícia Federal, cumpriu na segunda-feira mandados de busca e apreensão e de prisão, além de sequestro de bens e valores. De acordo com as investigações, o suposto esquema de garimpo ilegal na Terra Yanomami envolvia o cantor Alexandre Pires e seu empresário, Matheus Possebon. Ambos, no entanto, negam participação em atividades ilícitas da quadrilha.
Veja, em seis tópicos, detalhes e os próximos passos da ação da PF:
Apreensão de celular em navio
Pires foi surpreendido, na segunda-feira, durante uma apresentação em um cruzeiro, no litoral de Santos. Na ocasião, após a chegada dos agentes, ele se trancou em um banheiro em uma das cabines do navio antes de entregar o celular aos policiais. O aparelho apreendido passará agora por uma perícia da corporação.
Em nota, o advogado Luiz Flávio Borges D’Urso, que representa o cantor, afirmou que ele “jamais cometeu qualquer ilícito, o que será devidamente demonstrado no decorrer das investigações, reiterando sua confiança na Justiça brasileira”.
“Na qualidade de advogado do cantor e compositor Alexandre Pires, viemos a público, diante das notícias veiculadas pela mídia em geral, esclarecer que o cantor Alexandre Pires não tem e nunca teve qualquer envolvimento com garimpo ou extração de minério, muito menos em área indígena”, disse, no comunicado.
Integrante do ‘núcleo financeiro’ do esquema
As investigações da PF apontam que Pires integrava o chamado “núcleo financeiro” do esquema de garimpo ilegal. No inquérito, teriam sido descobertos indícios de que foi armado um suposto esquema para a retirada ilegal de cassiterita da terra. O minério, valorizado no mercado internacional, era declarado como originário de um garimpo regular no Rio Tapajós, em Itaituba, no Pará, e supostamente transportado para Roraima para tratamento. As investigações apontam que tal dinâmica ocorreria apenas no papel, já que o material era extraído do próprio estado de Roraima.
A operação chamada de Disco de Ouro é um desdobramento de uma ação da PF deflagrada em janeiro de 2022, quando 30 toneladas de cassiterita extraídas de terra indígena que se encontravam depositadas na sede de uma empresa investigada e estariam sendo preparadas para remessa ao exterior. As investigações seguem em andamento.
Transações bancárias
A PF aponta que Pires recebeu dois depósitos, de R$ 357 mil e de R$ 1 milhão em suas contas bancárias. A investigação identificou ainda que uma das contas bancárias do músico também chegou a enviar, em uma atividade considerada atípica, R$ 160 mil para a mineradora.
Para os investigadores, essas movimentações financeiras indicam que a conduta de Pires ignorou “a origem do dinheiro e assumiu o risco de ser proveniente de atividade criminosa”.
Ainda de acordo com a PF, “os valores expressivos advindos de uma pessoa jurídica do ramo minerário com artista consagrado nacionalmente é um forte indicativo de ignorância deliberada sobre a origem criminosa do dinheiro para evitar responsabilização criminal”.
Empresário e sócio oculto de mineradora
Preso preventivamente durante a operação, o empresário de Alexandre Pires, Matheus Possebon, é suspeito de ser sócio oculto de uma mineradora que operava o suposto esquema. Ele teria recebido, em contas pessoais e de familiares, R$ 1.7 milhão em transações típicas de lavagem de dinheiro, segundo o inquérito.
De acordo com a PF, Possebon figurava no núcleo dos financiadores da quadrilha. Apenas em suas contas pessoais, houve depósitos que somam R$ 1,1 milhão, em quatro transações financeiras. Alguns dos seus familiares, como irmão e nora, e até um contador ligado a ele, teriam sido os demais destinatários da distribuição de lucros da mineradora investigada.
O inquérito aponta que “há evidências da prática do delito de lavagem de capitais pelos participantes do esquema criminoso, a partir da ocultação e dissimulação da origem ilícita dos recursos obtidos com os lucros da exportação do minério ilegalmente extraído das terras indígenas de Roraima, através da pulverização de recursos a partir das contas bancárias de Possebon” e de outros suspeitos.
Em nota, o advogado Fábio Tofic Simantob informou que a prisão do empresário é “uma violência” e foi decretada “por conta de uma única transação financeira com uma empresa que Matheus não mantém qualquer relação comercial”.
“Mais grave ainda, a prisão se deu sem que Matheus pudesse ao menos esclarecer a transação. A defesa, porém, está certa de que esta violência será prontamente desfeita, e que Matheus poderá, em liberdade, comprovar que nada tem a ver com a investigação”, disse, no comunicado.
Garimpeiros, pilotos de aeronaves e postos de combustíveis
Na Disco de Ouro, foram identificadas transações financeiras que relacionariam toda a cadeia produtiva do suposto esquema criminoso, com a presença de garimpeiros, pilotos de aeronaves, postos de combustíveis, lojas de máquinas e equipamentos para mineração e laranjas para encobrir movimentações fraudulentas.
Contra esses alvos, foram cumpridos dois mandados de prisão e seis de busca e apreensão, expedidos pela 4ª Vara Federal da Seção Judiciária de Roraima, em Boa Vista e Mucajaí, em Roraima, além de São Paulo e Santos, Santarém, Uberlândia e Itapema. As investigações seguem em andamento.
O que ainda falta ser esclarecido
É provável que Alexandre Pires e Matheus Possebon prestem depoimentos nos próximos dias para esclarecer a suposta participação no esquema criminoso. Apesar de negarem ligação com a quadrilha que atuaria na terra indígena, ambos tiveram seus sigilos fiscais e bancários quebrados por determinação judicial e as análises financeiras mostraram transferências oriundas da distribuição de lucros da mineradora, segundo a PF.
A partir dos depoimentos deles e dos demais alvos, é possível que os investigadores consigam entender a dinâmica dos depósitos efetuados e a efetiva participação dos citados na investigação nos crimes elencados pela PF no inquérito.
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