“A água que a gente tá bebendo é lá do poço, duma cacimba que nós fizemos, né, e tamo tirando de lá”. O igarapé que servia de sustento para Aldemir Queiroz e família, além de moradores da comunidade Santa Luzia do Caranatuba, agora se resume a um filete de água. A paisagem exuberante da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã deu lugar à seca e à lama que já atinge 361 famílias em toda a reserva.
“Aqui ainda tem acesso, mas se alimentar é que é difícil porque ir pra Itapiranga tá complicado, os peixes aqui tão escassos, até mesmo plantar é difícil nesse sol intenso. Só a gente sabe como tá difícil aqui. Algumas comunidades estão mais difíceis que outras, mas todas com dificuldade”, afirma Elizângela Cavalcante, professora, ribeirinha e liderança extrativista da RDS.
No bioma que abriga a maior biodiversidade do planeta, a escassez de água e alimento que assola as populações amazônidas durante a seca que atinge a região, mobiliza sociedade civil, poder público e instituições para garantir uma corrida contra o tempo pela sobrevivência. Aproximadamente duas toneladas de alimento, kits de higiene e água potável deverão ser entregues nos próximos 15 dias pela campanha “Regatão do Bem”, liderada pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), que mobiliza também uma coalizão de organizações da sociedade civil com atuação nas bases e territórios do Amazonas.
Diante da situação que deve se estender até janeiro de 2024, segundo previsões do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), o Idesam vem mobilizando sua rede de parceiros e de apoiadores da iniciativa privada a fim de concentrar esforços na ajuda emergencial aos territórios.
Seis localidades deverão ser atendidas nesta etapa inicial: Lábrea, Tapauá, RDS Uatumã Carauari, Tefé e Maués. “Neste momento, nosso foco é garantir o atendimento emergencial a essas comunidades que já se encontram, praticamente, isoladas. Para termos a dimensão dessa problemática, precisamos olhar para a dinâmica de vida dessas populações no Amazonas que dependem, quase que exclusivamente dos rios, como fonte de subsistência”, explica Paola Bleicker, diretora executiva do Idesam e criadora da campanha.
A estiagem já atinge 60 dos 62 municípios do Amazonas. Destes, 45 estão em situação de emergência e 15 em estado de atenção. Apenas dois se encontram em normalidade. Quase 300 mil pessoas ou 74 mil famílias já sofrem as consequências da descida dos rios, de acordo com informações do Painel do Clima, responsável pelo monitoramento, combate e prevenção às ações de fatores climáticos, do Governo do Estado do Amazonas.
A totalidade do recurso arrecadado será convertida em doação de cestas básicas, kits de higiene e água potável. Parte das doações será transportada por via aérea, com apoio do Greenpeace Brasil. Outros parceiros como Mercado Livre Solidário e Fundação Banco do Brasil já integram a rede de solidariedade. Os fotojornalistas Tadeu Rocha e Michael Dantas contribuíram com a cessão de imagens para ilustração da campanha.
A diretora executiva do Idesam, Paola Bleicker, ressalta que os registros de doação, bem como o relatório de prestação de contas, poderão ser acompanhados pela página do projeto, no site do Idesam: idesam.org/regataodobem .
As doações serão arrecadadas por meio do PIX 07.339.438/0001-48. Para mais informações, enviar mensagem para [email protected] ou ligar para (92) 3347-7350.