Amazonas – Em uma época em que o Amazonas enfrenta a pior estiagem de todos os tempos, com crianças do interior vivendo de doações de cestas básicas, é importante lembrar que se interior dependesse da Secretaria de Educação e Desporto do Amazonas (Seduc-AM), atualmente os estudantes estariam se alimentando de comida da pior qualidade, tendo a saúde prejudicada.
Isto porque no dia 15 de março de 2023, a SEDUC-AM, comandada pela secretária Maria Josepha Penella Pêgas Chaves, conhecida como Kuka Chaves, estava a ponto de firmar um contrato no valor exorbitante de mais de R$ 15,7 milhões gastos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), para adquirir quatro milhões de latas de alimentos ultraprocessados, incluindo conservas de salsicha e carne desfiada, para os estudantes da rede pública de ensino. A vigência do contrato era de 12 meses, indo de 12/05/2023 até 12/05/2024. Veja:
Vale ressaltar que a realidade enfrentada por muitas crianças no interior do Amazonas é verdadeiramente angustiante, pois elas mal têm acesso a comida adequada e frequentemente dependem de cestas básicas para sua sobrevivência. A situação se torna ainda mais preocupante quando consideramos que, em algumas áreas remotas, a única refeição substancial que estudantes recebem é aquela fornecida nas escolas. Se a SEDUC não tivesse sido denunciada, alimentos ultraprocessados estariam sendo oferecidos às crianças, como salsichas enlatadas, que são prejudiciais à saúde.
Veja lista dos produtos oferecidos pela SEDUC-AM:
- 503 mil latas de salsicha;
- 550 mil latas de conserva de peixe;
- 1,4 milhões de latas de conserva de carne de cortar;
- 500 mil latas de conserva de carne de desfiar;
- 1 milhão de latas de conserva de peixe do tipo Sardinha.
Empresa
E o que é ainda mais chocante é a escolha da fornecedora desses alimentos de baixa qualidade, a empresa VIP Comércio e Serviços de Produtos de Informática Ltda Unipessoal. Se você está se perguntando o que a informática tem a ver com alimentos, saiba que estamos na mesma dúvida. A VIP é conhecida por ser uma espécie de “faz tudo”, com um vasto leque de atividades econômicas, que vão desde a construção de rodovias até serviços de agronomia. No entanto, sua especialização está longe de envolver alimentação de qualidade para estudantes.
Os contratos milionários que a Seduc-AM celebrava para a compra desses alimentos de qualidade duvidosa, enquanto as crianças enfrentam dificuldades para obter refeições adequadas, parecem indicar uma total desconexão com a realidade e um desprezo pela saúde e bem-estar dos estudantes.
Mas as contradições não param por aí. Antes do contrato ser proibido pela Lei 126/2023 que restringe a oferta de embutidos, enlatados e bebidas artificiais no Cardápio da Alimentação escolar, da rede pública de ensino, no âmbito do Estado do Amazonas, a Seduc-AM já desrespeitava claramente as recomendações do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que enfatiza a importância de uma alimentação baseada em alimentos in natura ou minimamente processados para garantir a saúde das crianças. A literatura científica é clara quanto aos riscos associados ao consumo de alimentos ultraprocessados, incluindo o aumento do risco de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, obesidade e câncer.
Após inúmeras denúncias e críticas, a pasta de Kuka Chaves finalmente se viu forçada a rever sua política alimentar nas escolas, mas ela não mudou totalmente. Em junho de 2023, a Secretaria estava servido suco e bolacha para as crianças. E só após nova pressão, a Seduc-AM começou a redirecionar melhor os recursos públicos e a fornecer carnes, peixes e açaí nas escolas.
*Com informações CM7