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Como ficam os clientes após a 123 Milhas pedir recuperação judicial?

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Requerimento foi protocolado pela agência de viagens nesta terça-feira (29). Segundo a empresa, medida é essencial para que consiga honrar compromissos com clientes, ex-colaboradores e fornecedores.

A agência de viagens 123 Milhas entrou com pedido de recuperação judicial nesta terça-feira (29). O requerimento foi feito à 1ª Vara Empresarial da Comarca de Belo Horizonte (MG).

Segundo os advogados da empresa, o pedido foi protocolado por conta de fatores “internos e externos”, que “impuseram um aumento considerável de seus passivos nos últimos anos”.

Em nota, a companhia afirmou que o objetivo é “assegurar o cumprimento dos compromissos assumidos com clientes, ex-colaboradores e fornecedores” e “reequilibrar sua situação financeira” (veja a íntegra mais abaixo).

A 123 Milhas já havia suspendido, em 18 de agosto, os pacotes e a emissão de passagens de sua linha promocional, afetando viagens já contratadas da linha “Promo”, de datas flexíveis, com embarques previstos de setembro a dezembro de 2023.

Mas como ficam os clientes?

Para especialistas ouvidos pelo g1, os clientes já atingidos pelo cancelamento de pacotes devem ter mais dificuldades para conseguir reembolso caso o pedido de recuperação judicial seja aceito pela Justiça.

“Com certeza isso impacta o recebimento de indenizações, danos morais, ressarcimento de passagens. Todas as obrigações são afetadas pelo pedido de recuperação judicial. Vai dificultar totalmente”, afirma o professor Gustavo Kloh, da FGV Direito Rio.

Segundo Kloh, a medida deve complicar não apenas o cumprimento dos acordos já firmados pela empresa após a suspensão de pacotes, mas também a continuidade de seus negócios. “A companhia não vai interromper suas atividades, mas quem vai querer comprar?”, questiona.

O advogado Eduardo Terashima, sócio do escritório NHM, explica que a recuperação judicial é, em síntese, uma maneira de a empresa dizer que está em crise e que irá apresentar um plano para se recuperar — o que, de acordo com ele, causa grandes impactos nos clientes.

Nesse caso, as dívidas da companhia deverão ser divididas em três partes: créditos trabalhistas, créditos com garantia real e créditos quirografários — em geral, os direitos dos clientes entram nessa última etapa.

“Caso a Justiça aceite o pedido, todas as execuções [pagamentos] podem ser suspensas por seis meses. Em relação à devolução de vouchers ou dinheiro, isso terá de ser discutido em um comitê de credores, que vai envolver também os clientes”, diz.

Assim, a previsão é que haja uma votação sobre a forma de pagamento e quanto será pago. Esse plano deve ser aprovado por maioria em todas as classes do comitê e, só então, os clientes poderão começar a receber.

“Por isso, a decisão impacta bastante. A devolução acaba saindo totalmente do controle. E qualquer pagamento passa a depender da discussão dentro da recuperação judicial, incluindo o formato: se é dinheiro, se é voucher, quantos por cento. Isso tudo será discutido dentro da recuperação”, continua.

O advogado Sérgio Gabriel, especialista em Direito Empresarial e Societário, reforça que a suspensão por 180 dias de todas as ações contra a companhia pode ser prorrogada pelo mesmo período no processo de recuperação.

O especialista destaca ainda que, caso o juiz aceite o pedido, todos os consumidores e credores da 123 Milhas passarão a depender da decisão do novo comitê, que definirá em assembleia a regularização dos pagamentos.

“Mas, nesse caso, os acordos serão feitos em moldes diferentes dos firmados anteriormente. A companhia passará a pagar, então, de acordo com o que for acertado no plano de recuperação”, diz.

Ainda segundo o advogado, os clientes que receberam vouchers da companhia antes do pedido de recuperação judicial podem “se livrar” desse processo caso a empresa decida cumprir espontaneamente com o acordo firmado.

“Nesse caso, a empresa tem duas opções: manter o cumprimento — se isso estiver no fluxo dela — ou, eventualmente, não cumprir com esses vouchers e levá-los também para o plano de recuperação”, conclui.

Grasiele Roque da Silva, especialista em recuperação judicial do Benício Advogados, reforça que a inclusão dos clientes nos chamados créditos quirografários também pode significar um deságio (perda de valor) no montante a receber.

“Se um cliente possui um crédito de R$ 10 mil, pode ser que ele vá receber algo em torno de R$ 3 mil, e em longas parcelas”, diz, reforçando que essa é uma média com base em outros casos de recuperação judicial.

A orientação da especialista é que os clientes aguardem a decisão da Justiça e recorram ao Procon caso se sintam lesados.

O que diz a 123 Milhas?

Em nota, a empresa informou que protocolou um pedido de recuperação judicial no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, reiterando que a medida tem como objetivo “assegurar o cumprimento dos compromissos assumidos com clientes, ex-colaboradores e fornecedores”.

Veja a nota na íntegra:

“A 123milhas informa que protocolou hoje (29/08) no Tribunal de Justiça de Minas Gerais um pedido de Recuperação Judicial.

A medida tem como objetivo assegurar o cumprimento dos compromissos assumidos com clientes, ex-colaboradores e fornecedores. A Recuperação Judicial permitirá concentrar em um só juízo todos os valores devidos. A empresa avalia que, desta forma, chegará mais rápido a soluções com todos os credores para, progressivamente, reequilibrar sua situação financeira.

A 123milhas ressalta que permanece fornecendo dados, informações e esclarecimentos às autoridades competentes sempre que solicitados.

A empresa e seus gestores se disponibilizam, em linha com seus compromissos com a transparência e a ética, a construir conjuntamente medidas que possibilitem pagar seus débitos, recompor sua receita e, assim, continuar a contribuir com o setor turístico brasileiro.”

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