A análise de imagens das câmeras acopladas aos uniformes da Polícia Militar pela corregedoria da corporação já começa a dar resultados. Um subtenente lotado no 17º BPM (Ilha do Governador), cujo nome a PM não informou, foi flagrado com maconha e preso. Segundo a assessoria de imprensa da PM, o comportamento do policial, tentando tampar o visor da câmera, chamou a atenção dos agentes da corregedoria, que faziam uma supervisão remota no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), no Centro do Rio.
Desde o fim do mês passado, agentes da Corregedoria da Polícia Militar passaram a ocupar a sala de monitoramento do CICC para, aleatoriamente, acompanhar as imagens transmitidas pelas câmeras corporais de alguns policiais on-line. Na noite de quinta-feira, o subtenente foi um dos escolhidos para a vigilância. Ao perceberem o comportamento suspeito do militar, integrantes da corregedoria alertaram uma equipe da 1ª Delegacia de Polícia Judiciária da PM (DPJM), no Méier, que foi ao local onde o subtenente se encontrava. Como as câmeras possuem GPS, a localização do militar ocorreu de imediato.
Ao chegarem numa rua da Ilha do Governador, os agentes avistaram o policial suspeito e o abordaram. Numa rápida revista, foi encontrada uma trouxinha de maconha. Os colegas de farda lhe deram voz de prisão e, em seguida, ele foi levado para a 1ªDPJM, onde prestou depoimento.
Ele está preso na Unidade Prisional da Polícia Militar (UPPM). Ele ficará afastado das ruas por tempo indeterminado, enquanto responde a um procedimento administrativo disciplinar (PAD).
Num grupo de WhatsApp de policiais militares, circulou a informação de que o subtenente teria apreendido a maconha de um suspeito, que inclusive teria sido agredido pelo policial. O comando da corporação não confirmou tal situação, mas afirmou que o militar foi flagrado com o entorpecente. O subtenente estaria há 27 anos na corporação.
Uso de câmeras nos uniformes
O uso de microcâmeras nos uniformes de agentes começou em meados do ano passado com a Polícia Militar. Os primeiros batalhões a adotarem o sistema foram os da capital, se estendendo para toda região metropolitana e, por fim, para o interior. A instalação das câmeras nas fardas era uma das cobranças por parte de entidades ligadas aos direitos humanos, como proposta para a redução da letalidade policial, prevista na Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, conhecida como a ADPF das favelas.
O recurso foi impetrado pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). O governo do estado elaborou um plano de medidas para a redução da letalidade policial, informando que a instalação das câmeras corporais está avançando, principalmente na PM, uma vez que a ideia é expandir para a Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e outros órgãos.
Câmera instalada em uniforme de PM no Rio — Foto: Fábio Rossi/Agência O Globo
Esse relatório do governo fluminense foi apresentado ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, relator da ADPF das Favelas, mas houve um impasse. Pelo plano, o Batalhão de Operações Especiais (Bope), o Batalhão de Choque e a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) não usariam as câmeras no fardamento, a pretexto que, por serem unidades de elite das polícias, algumas táticas de treinamento precisariam ser mantidas em segredo. O governo argumentou que, como o material gravado pode ser solicitado pela Justiça, Ministério Público e Defensoria Pública, em caso de investigação, haveria a possibilidade de dar divulgação às técnicas policiais, o que favoreceria o crime organizado.